Fonte:http://esportes.terra.com.br
A campanha inédita no Campeonato Mundial deixou a Seleção feminina de handebol em boas condições não apenas em relação às maiores potências do esporte - que, segundo as jogadoras, passaram a respeitar o time. Com o quinto lugar conquistado no último domingo, a equipe comandada pelo técnico Morten Soubak se tornou o principal produto da Confederação Brasileira (CBHb) para o futuro em relação ao grupo masculino, segundo o próprio presidente Manoel Oliveira.
"O bolo sempre foi repartido no meio, mas com isso as meninas ganharam os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, ganharam a vaga olímpica, ficaram em quinto em um Mundial e encantaram a todos. Elas mostraram que podem ter privilégios daqui para frente", disse o dirigente.
Nesta entrevista exclusiva ao Terra, Manoel Oliveira ainda assegurou a permanência do técnico Morten Soubak até a Olimpíada de 2012 (apesar de fazer uma suave crítica a uma suposta falta de ousadia do dinamarquês durante a derrota nas quartas de final para a Espanha) e admitiu que a competição realizada em São Paulo em dezembro não foi superavitária para a CBHb, mas se disse orgulhoso com o retorno obtido no período. Confira:
Terra - Para o senhor, qual o balanço deste Mundial?
Manoel Oliveira - A confederação foi ousada ao organizar um Campeonato Mundial. Sabíamos do tamanho que seria a competição, mas tínhamos a firme convicção de que possuíamos uma joia bruta em mãos: a Seleção feminina, que tinha capacidade de trazer no mínimo o que trouxe: o quinto lugar. Mas ficamos com o sentimento de que pelo menos o pódio poderia ter sido alcançado. Resultados à parte, o objetivo principal era mobilizar o País. Agora temos um legado muito grande. Tudo isso mostrou que o nosso handebol é questão de apenas um detalhe para entrar na elite. Nosso handebol é um bom produto, então a próxima missão é ir atrás de mais atletas e trazer mais apoio da mídia.
Terra - E como fazer isso?
Manoel Oliveira - É tudo uma questão de resultados. Vamos sensibilizando todos os setores com os resultados, e está aí a grande prova: um quinto lugar inédito em um Mundial, com uma campanha de nove jogos, oito vitórias e só uma derrota - e por um gol de diferença. O handebol se confirma, é uma modalidade pronta, um esporte praticado por muitas pessoas.
Terra - Mas o Morten Soubak, mesmo com um resultado inédito, não se sentiu 100% seguro no cargo durante o Mundial...
Manoel Oliveira - Tanto o Morten Soubak como o Javier García Cuesta (técnico da Seleção masculina) têm contrato para o ciclo olímpico de 2012. A presença deles se dá dentro de tudo o que foi acordado: Jogos Sul-Americanos, Pan-Americanos, Mundial e Olimpíada. O Morten é querido por todas as jogadoras e fez um trabalho muito bom. Até 2012 ele vai ficar, agora nossa questão é garantir a presença dele até 2016.
Terra - Então, por que logo após a derrota para a Espanha, havia essa incerteza? Até mesmo a goleira Chana disse que só fica na Seleção para Londres 2012 se o Morten permanecer.
Manoel Oliveira - O handebol é um esporte de muita emoção, há muito amor em jogo. E isso passa pela partida contra a Espanha. Todos que entendiam de tática acreditavam que algumas ações que ele tomou naquele jogo poderiam ser diferentes e significar uma virada para o Brasil. Ou não. Também poderíamos ter perdido por dez gols de diferença. Houve comentários de que ele deveria ter sido mais audacioso, assim como a confederação teve a ousadia de sediar um Mundial. Ele fez alterações no time que foram cruciais para as viradas contra França e Croácia, então todos do esporte pensam que ele poderia ter sido mais arrojado contra as espanholas. Mas estamos felizes com o trabalho dele.
Nota da redação: contra França e Croácia, depois de virar atrás no placar para o segundo tempo, Soubak alterou o esquema defensivo do Brasil do 6-0 para o 5-1. Contra a Espanha, manteve o 6-0.
Terra - Outra impressão que o Mundial deixou foi que a Seleção masculina ficou um pouco para trás em relação às meninas. É verdade?
Manoel Oliveira - Olha, acontece o seguinte em relação aos investimentos: o bolo sempre foi repartido no meio, mas com isso as meninas ganharam o Pan, ficaram em quinto em um Mundial e encantaram a todos. Elas mostraram que podem ter privilégios daqui para frente.
Terra - A partir de 2012?
Manoel Oliveira - A partir de já.
A pressão também vai aumentar consideravelmente sobre a equipe feminina, não?
Manoel Oliveira - Mas isso faz parte de quem assume o ônus do sucesso. Todos nós já estávamos preparados para isso que aconteceu no Mundial. Claro que queríamos subir no pódio, mas as meninas têm consciência de que a cada dia a pressão vai aumentar sobre elas. E estão preparadas.
Terra - E quanto aos pontos negativos do Mundial?
Manoel Oliveira - O público com certeza foi um ponto negativo, ficou a desejar. Mas não nos jogos do Brasil, o ginásio esteve sempre cheio. Acontece que o campeonato não estava programado para acontecer aqui em São Paulo, o torneio veio para cá de Santa Catarina seis meses antes da abertura. Não há desculpas quando se falha, mas algo ali ficou a desejar.
Nota da redação: Segundo a Federação Internacional de Handebol (IHF), o Ibirapuera nunca esteve no máximo da capacidade. O maior público recebido foi de 6.500 espectadores, menos de 60% dos 11 mil assentos do ginásio.
Terra - E institucionalmente, qual o saldo do torneio?
Manoel Oliveira - Não tivemos um Mundial superavitário, mas contamos com apoio das prefeituras, do governo do Estado e do Ministério do Esporte. Só que, mesmo assim, tivemos que cortar alguns gastos não essenciais. Nosso plano inicial era pagar locação de ônibus e lanches para associações de crianças carentes, mas no momento de aperto tivemos que cancelar essas medidas.
Terra - Houve um prejuízo, então, organizando essa competição?
Manoel Oliveira - Não podemos falar em prejuízo tendo o resultado que alcançamos e o retorno positivo que tivemos. Faltou dinheiro, claro, mas nada que preocupe futuramente.
Terra - E como será o planejamento da CBHb para 2012?
Manoel Oliveira - Tudo é uma questão estratégica. Traçamos uma série de objetivos neste ciclo e até agora só não conseguimos a vaga olímpica no masculino. Enquanto isso, estamos construindo o nosso novo centro de treinamentos, que será inaugurado no ano que vem, em São Bernardo do Campo, no antigo clube da Volskwagen, e nos dará a oportunidade de treinar até quatro Seleções nacionais simultaneamente, sempre produzindo conhecimento.
Terra - E qual vai ser o custo para a CBHb?
Manoel Oliveira - A Prefeitura nos dará o terreno por termo de comodato, e o Ministério do Esporte já nos deu R$ 12 milhões para construirmos tudo. Com certeza teremos um ou outro custo com estrutura, mas já temos o principal.

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